quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sobre a falsa perda de valores

Leon Denis
Qua, 19 de Novembro de 2008 00:00

"Ora, toda tradição se torna mais respeitável à medida que fica mais distante a sua origem, quanto mais distante a sua origem, quanto mais esquecida for esta, o respeito que lhe é tributada aumenta a cada geração, a tradição se torna enfim sagrada, despertando temor e veneração..."
Nietzche

Já há algum tempo tenho ouvido muito estas expressões: "hoje em dia eles [os jovens] já não têm mais valores", "há uma inversão dos valores", "há uma falta de valores", entre outras, sempre no sentido de que a atual juventude já não dá a mínima para os valores propagados pelos pais, pela religião, pela sociedade, etc. Esse pensamento procede? De quais valores se trata?

Bom, os únicos valores, realmente valores, numa sociedade especista são: a sacralidade da vida humana, respeito (ao humano), justiça (para o humano), compaixão (ao humano), dignidade (do humano), não-violência (com o humano), entre outros.

Trabalho com um público de 15 e 16 anos, em sua grande maioria. E com o desenrolar de minhas argumentações em sala de aula a favor da abolição de todo tipo de uso que tradicionalmente se faz dos animais não-humanos para benefício humano, comecei a perceber que tal acusação - comumente feita por pais e professores - de que os jovens não têm mais os valores (cristãos- burgueses) que regem nossa sociedade, não procede, não tem o mínimo fundamento, ou melhor, se fundamenta numa má interpretação da realidade juvenil.

Pois bem, o que leva pais e professores à conclusão de que seus filhos e alunos não seguem os valores por eles ensinados?

1) Os jovens têm uma forte tendência a se rebelarem contra as imposições dos pais e o autoritarismo dos professores;

2) Jovens se opõem aos pais e aos professores, não cumprindo o que mandam ou fazendo o oposto;

3) Ou sua maneira de se opor é fazendo-os acreditar que tudo que falam não quer dizer nada (o que não é muito difícil).

O desdém praticado com tanta maestria pelos jovens aos ensinamentos familiares e escolares leva seus responsáveis à falsa idéia de que não dão importância aos valores, tão caros a nossa sociedade especista.

Agora vamos às experiências que me fizeram chegar à conclusão de que é falsa a idéia da falta de valores (antropocêntricos) na juventude.

Bom, procuro em sala de aula levar às últimas conseqüências aquilo que acredito ser a base da filosofia: a dúvida. De omnibus dubitandum, principalmente do óbvio. E é aqui que está o ponto central da questão: duvidar do óbvio. "É óbvio que os animais não pensam, só o homem é racional", "É óbvio que Deus fez os animais para nos alimentar", "É óbvio que estamos no topo da cadeia alimentar", "É óbvio que sem testes em animais voltaremos à Idade Média", "É óbvio que sem leite de vaca terei osteoporose", "É óbvio que sem carne ficarei anêmico e sem proteína". Todos esses óbvios e muitos outros são ditos pelos alunos como forma de rebater os argumentos que apresento em defesa do veganismo e do direito animal. E é óbvio que esses óbvios foram ensinados pelos familiares e professores aos jovens desde a mais tenra idade.

Opa! Esqueci de um pequeno esclarecimento conceitual: quando uso o termo óbvio, refiro-me ao "com certeza", do pai que diz ser essencial para a saúde do filho o copo de leite pela manhã e o bife no almoço. Ao "é indiscutível" que Deus os fez e os pôs a nossa disposição, pois está na Bíblia como dizem os porta-vozes de Deus na Terra. Ao "não seja bobo" fulano, os bichos agem por instinto, só o homem fala e pensa, só ele é racional, como dizem tantos docentes aos seus alunos durante anos.

Leia Mais...

Fonte: Pensata Animal

0 comentários: