segunda-feira, 25 de agosto de 2008

ESTÁ TÃO NA CARA QUE É DIFÍCIL ENXERGAR

Luciano Carlos Cunha
luciano@sentiens.net


PARTE I
PARTE II
PARTE III
PARTE IV
PARTE V
PARTE VI
PARTE VII
PARTE VIII

UMA QUESTÃO DE AMOR OU UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA?

1 – ERRANDO O ALVO: LIMITES DE ALGUNS ARGUMENTOS DE DEVERES DIRETOS

No movimento em defesa dos animais em geral, é comum o uso de vários tipos de argumentos para educar outras pessoas sobre problemas com a exploração animal (seja na alimentação, na ciência, entretenimento, tração, etc.). Na parte IV desse ensaio analisei alguns argumentos de deveres indiretos com relação aos animais não-humanos (entre eles, abster-se de comer produtos de origem animal por questões de saúde ou devido ao impacto ambiental, ou se opor à experimentação animal devido a problemas de extrapolação de dados de uma espécie para outra, por exemplo) e concluí que todos eles, além de não servirem para reivindicar um dever de respeito aos animais (ou tampouco o direito da parte deles de não serem usados como recursos), não atingem o ponto principal da questão: se há ou não justificativa ética para se usar os animais. Todos os argumentos de deveres indiretos já postulam de antemão, que os animais por si mesmos não contam, ou seja, assumem aquilo que deveriam antes, provar).

Ironicamente, tais argumentos são não apenas utilizados abundantemente pelo movimento de defesa animal, como são colocados como sendo os argumentos principais, senão os únicos. Caso tal uso partisse daqueles que não querem realmente defender os animais (e querem encontrar uma brecha para continuar explorando-os) seria compreensível o uso desses argumentos como se fossem os principais ou únicos. Por exemplo, alguém que pretendesse fazer propaganda de sua granja de produção sustentável poderia alegar que o erro com o uso de animais é o impacto ambiental. O que é difícil de entender é o fato de muitos ativistas de defesa animal pensarem que o erro em se usar os animais radica aí. Geralmente no discurso do movimento (panfletos, por exemplo) encontram-se muitos desses argumentos, e lá no final, algo como “Ah, e além disso tudo você ainda pode se tornar vegano por questões éticas!”. Essa postura revela uma grande falha tanto em entender o que significa a idéia dos direitos animais quanto em entender o que significa uma questão de ética. Essa falha é mais perigosa ainda porque parte daqueles que pretendem defender os animais. Se há a pergunta “usar animais é errado?”, é a ética que deve responder, pois é a ética que busca fundamentar a ação correta e, além disso, responder sobre esta prática e não sobre o seus efeitos colaterais (danos na saúde humana por ingerir produtos de origem animal ou usar medicamento que foi testado em animais, impacto ambiental, etc.). O movimento de defesa animal, em geral, tem se esquecido de endereçar a questão principal.

Na mesma parte IV, mencionei também alguns argumentos de deveres diretos, como o dever de não causar dor ou sofrimento e o de sentir algo pelos animais (como amor ou compaixão), e também os considerei insuficientes para garantir uma proteção aos animais (muito menos libertá-los de sua escravidão) e para mudar o paradigma especista que vigora em nossas mentes. Na presente parte deste ensaio me concentrarei no argumento do amor ou compaixão, e na próxima, direi algo sobre a ênfase na idéia do sofrimento. No discurso do movimento, também é freqüente aparecer a seguinte idéia (sobre deveres diretos) “opte pela abordagem que funcionará melhor com cada pessoa, nenhuma delas é melhor do que a outra: seja o amor e a compaixão, seja o respeito pelo sofrimento, sejam os direitos”1. Vou defender que tal idéia é falsa porque a defesa de direitos (morais e legais) possui alguns alcances que as outras duas visões (que chamarei de posição dos sentimentos e posição bem-estarista, respectivamente) não possuem. Novamente, colocar a defesa de direitos (que é uma defesa que se baseia numa argumentação ética) como algo a se opcionalmente respeitar ou reivindicar é compreender mal a idéia de direitos e a questão sobre se há ou não justificativa ética para o uso de animais. Não abordarei aqui a objeção de que “não há justificativa ética, mas mesmo assim é certo usar os animais”, pois essa objeção se baseia numa total ignorância quanto ao conceito de ética, já que é esse tipo de raciocínio (o raciocínio ético) que fundamenta qual a ação correta.

Antes de iniciar, porém, pela sétima vez (e às vezes, parece que muitos leitores pulam esse parágrafo) terei de enfatizar o que venho frisando nas outras partes deste ensaio: aqueles que pensam ser a ética relativa a cada sociedade ou subjetiva a cada indivíduo muito provavelmente não entenderão a análise feita aqui. A crítica feita aqui é um exercício de raciocínio ético, e, como as duas posições (relativismo e subjetivismo) não admitem que a razão possa ter um papel na formulação dos juízos e princípios éticos, realmente fica difícil (e inútil) discutir ética nessas bases. Uma refutação do relativismo e do subjetivismo, bem como algo sobre o papel da razão na ética podem ser encontrados no artigo dividido em seis partes disponível aqui: www.sentiens.net/top/PA_ACD_lucianocunha_
03_p1_top.html
. Para os que defendem que a ética é relativa ou subjetiva, é necessário primeiro lerem o referido artigo para daí então compreenderem em que campo se traça a crítica feita aqui.

Leita mais; AQUI

Fonte: Sentiens

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