terça-feira, 9 de junho de 2009

Por que criminalizar a pecuária na Amazônia?

A maior atividade ilegal da Amazônia é a pecuária bovina extensiva. Não é o tráfico de drogas ilícitas, a biogrilagem, a extração ilegal de madeira ou o garimpo. Estes movimentam pouco dinheiro e pouca gente se comparados à pecuária.

É crime contra os habitantes da Amazônia pois mais da metade da carne consumida na própria região é abatida, transportada e vendida de forma clandestina, sem condições de higiene, burlando o fisco e a todos nós.

É crime de lesa-humanidade ao ser o principal fator de emissão de gases que contribuem para as mudanças climáticas globais - carbono e metano, principalmente. Isto envergonha o Brasil perante o mundo pois se mostra um país incompetente. Enquanto as Nações se preocupam com o clima, o Brasil toca foco na Amazônia numa grande e desavergonhada fogueira. Em 30 anos nós, os brasileiros, desmatamos 70 milhões de hectares na Amazônia, uma área maior que Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos. Pior, anualmente queimamos boa parte desta área, mesmo sendo proibido, porque é mais fácil e mais barato limpar o pasto por meio do fogo e, como ninguém fiscaliza mesmo…

É crime contra o fisco estadual e federal ao esconder mais de 5 milhões de cabeças de gado, pastando sossegadamente nos grotões das fazendas. Gado que é transportado e abatido clandestinamente e vai financiar a grilagem de mais terras e a retirada de mais madeira ilegal.

É crime ambiental ao não respeitar sequer o código florestal, este instrumento legal da década de 1960, uma vez que não há uma única fazenda de pecuária extensiva na Amazônia que possa ser considerada legal. As áreas de proteção permanente (APPs) são ignoradas, as reservas legais são raramente cumpridas.

As micro-bacias são pisoteadas e interrompidas, as margens dos cursos d’água não são respeitadas; as queimadas são mais comuns do que se imagina, a caça prossegue até o extermínio, os habitats críticos são desconsiderados, assim como a complexa biodiversidade e as espécies ameaçadas, enfim, o ambiente nativo é um inimigo a ser extinto e substituído pelo capim exótico. O boi, outra espécie exótica e invasora, ocupa o espaço que deveria ser dos ambientes e da fauna naturais.

É crime trabalhista ao empregar, informalmente, sem condições mínimas de trabalho - moradia para o trabalhador e sua família, transporte, local para refeições, equipamentos de segurança - a maior parte dos 500 mil trabalhadores do setor. A maioria de trabalhadores libertados em regime análogo a escravidão o foram de fazendas de pecuária da Amazônia.

É crime fundiário ao invadir 50 milhões de hectares de terras públicas (duas vezes o estado de São Paulo), e procurar, por meios espúrios, legalizar a propriedade desta terra, com grandes vantagens ao proprietário e imensas perdas à União e a cada brasileiro. Esta usurpação hoje é matéria de escândalo nacional, a Medida Provisória (um instrumento da ditadura), a de número 458, que legaliza a posse dos grileiros que ocupam terras de 400 a 1.500 hectares.

É crime de lambança econômica ao ignorar o maravilhoso potencial econômico dos ambientes naturais e preferir, em seu lugar, produzir ridículos 85 kg de carne bovina/hectare/ano e alcançar a desprezível renda de R$ 300,00/ha/ano. Afinal, estes grileiros não pagaram pela terra, roubam-nos a madeira e por que se sensibilizariam para a regra número 1 da economia privada: o retorno sobre o capital? A pecuária brasileira é a altamente ineficiente e, com raras exceções, demonstra capacidade em avançar.
Na Amazônia a pecuária apresenta um grau de ocupação inferior a uma unidade animal por hectare e oferece retorno sobre o capital inferior ao da caderneta de poupança (6% ao ano), ou seja, o pecuarista ganharia mais dinheiro colocando seu capital em qualquer aplicação financeira que devastando a Amazônia.

Mesmo economicamente, a atividade da pecuária da Amazônia não se justifica, seu impacto na economia brasileira é desprezível: menos de 0,5% do PIB do Brasil. Por que, então, insistir nesta atividade?

É crime social e cultural ao perpetuar o atraso deste país. Um país ocupada pela ditadura da pata do boi e de seus coronéis é o símbolo do atraso, do desrespeito à cultura aos direitos básicos dos cidadãos.

É crime ao ser a principal causa de mortes e violência no campo, atingindo especialmente as populações tradicionais. A pecuária torna o Brasil um campo de concentração, protegido por capangas ilegais e que alimenta a corrupção política e a lavagem de dinheiro que tanta energia e recursos sorve da Nação.
A pecuária trata a Amazônia no atacado, aceita-se passivamente a transformação anual de 1 milhão de hectares de florestas em pastos, a devassa anual de 100.000 hectares para o carvão vegetal ilegal e tantas áreas para a soja e outras atividades.

Diante da pecuária o conhecimento de dez mil anos, a cultura da floresta tropical, não tem valor. O indivíduo, especialmente das populações originais, nada representam, são um estorvo. O que vale são os milhares de hectares de pastos sujos e mal cuidados, desertos humanos, tendo como moldura o paliteiro de castanheiras e árvores queimadas, de braços abertos, a pedir socorro.

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Fonte: Sítio Vegetariano

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