terça-feira, 26 de maio de 2009

Método alternativo de ensino, substitui a vivissecção de animais

NERVOS DE AÇO

Hospitais investem em tecnologia com custo de até US$ 300 mil para formação de profissionais de saúde

Médicos usam robô e ator para reciclagem


Pedrinho, seis meses, chega ao hospital inconsciente, com politraumatismo e suspeita de hemorragia interna. Meia hora antes, ele e a mãe foram lançados para fora de uma van que se chocou contra um ônibus na avenida Brasil, no centro do Rio. A mãe morreu na hora. O bebê, com ruptura do rim, respira, mas treme muito, o que leva os médicos a suspeitarem de uma lesão cerebral.

O cenário seria trágico se não fosse fictício. Apesar de chorar, tossir, engasgar, respirar, ter batimentos cardíacos e pulsação, Pedrinho é um robô. Com tecnologia norte-americana, o equipamento custa US$ 80 mil e foi importado por um centro de treinamento médico carioca.

Chamados de "simuladores reais de pacientes", robôs de última geração e atores (esses sim, bem reais) são as novas estratégias usadas em cursos voltados a estudantes de medicina, médicos e outros profissionais de saúde, a exemplo do que acontece em países como os EUA e o Canadá.

As máquinas custam de US$ 80 mil a US$ 300 mil e simulam diversas funções do corpo humano, como respiração, batimentos cardíacos, inchaço e pulsação. Instrutores ficam instalados em uma sala de controle e manipulam as respostas do robô. Por exemplo, os batimentos cardíacos podem variar de uma hora para outra ou a garganta e a língua incham, dependendo da situação clínica.

No centro de treinamento Berkeley, onde está "internado" Pedrinho, há nove salas de simulação totalmente equipadas com robôs, respiradores artificiais, desfibriladores, entre outros equipamentos de suporte à vida.

Segundo o engenheiro nuclear Marcelo Bastos Glória, diretor do centro, todas as simulações são feitas a partir de casos reais obtidos em hospitais da cidade. Para estudar determinada situação clínica no robô, os alunos são subsidiados com um verdadeiro dossiê, contendo exames laboratoriais e de imagem do paciente.

Quase 5.000 profissionais de saúde, vindos de instituições médicas de todo o país, já treinaram no local. Além dos robôs, o curso conta com a participação de atores, que representam papéis de pacientes, de parentes das vítimas e de profissionais de saúde.

"O treinamento com os simuladores é muito importante porque evita que o paciente seja colocado precocemente na mão do médico. Aqui, um erro pode levar o robô à morte, mas ele ressuscita. Na vida real isso não acontece." Em alguns locais, os robôs vêm a substituir antigos manequins estáticos ou até mesmo animais. Em São Paulo, há forte pressão para que as escolas de medicina deixem de usar os cães recolhidos pelo serviço de zoonoses no ensino cirúrgico. Depois de operados, esses animais são sacrificados.

Médicos

Além dos estudantes, médicos já formados também passam por cursos de reciclagem que usam robôs. No hospital Sírio Libanês, por exemplo, as máquinas são utilizadas no treinamento de diversas situações, como a colocação de tubos na traquéia (traqueostomia) e de sondas na bexiga, a aplicação de choques elétricos no coração e aspiração de sangue e ar do pulmão. O médico Edson Ferreira Paiva, responsável pelo treinamento do Sírio, conta o caso de um médico, formado há mais de 20 anos, que nunca havia conseguido "ressuscitar" um paciente com choque elétrico. Depois do treinamento, relatou ao instrutor ter salvo dois.

Para ele, as emergências cardiovasculares, como o infarto e o AVC (acidente vascular cerebral), são situações que podem ser perfeitamente reproduzidas utilizando robôs. "Eles apresentam palpitação no peito, arritmia. A situação é tão real que os estudantes ficam nervosos." No Sírio, há cinco robôs. Um deles, com ajuda de um compressor, respira.

O Hospital Israelita Albert Einstein lança em outubro um centro de simulação realística de US$ 2,5 milhões, montado em parceria com uma instituição israelense, referência em simulação médica.

Além dos robôs, o Einstein vai utilizar atores e pretende investir no que chama de "treinamento atitudinal", focado em decisões e atitudes dos profissionais da saúde que podem ser cruciais para a vida do paciente.

Segundo o médico Carlos Alberto Moreira Filho, superintendente do instituto de ensino e pesquisa do Einstein, não adianta os robôs de última geração se não houver investimento no fator humano e na mudança de atitudes.

"Os erros não deixam de acontecer porque o robô fala. Muitos erros em medicina acontecem por problemas que não envolvem o médico diretamente. O cirurgião pode fazer o melhor trabalho do mundo, mas se outro profissional deixa o paciente cair da maca ou não percebe que a máscara de oxigênio não está bem colocada, pode colocar tudo a perder", diz o médico.

Fonte: PEA

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