sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Excesso de ferro pode prejudicar organismo

Para pesquisadora da Universidade de Brasília, o mineral presente na carne é o que causa mais danos

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ter uma dieta rica em ferro é fundamental -ainda mais em um país com grande índice de anemia, como o Brasil. Mas um estudo acaba de mostrar que é preciso tomar cuidado com o exagero. Feito na Universidade de Brasília, o trabalho, que será publicado na revista "Nutrition", constatou que dietas com maior quantidade do nutriente geram danos em moléculas do organismo, podendo levar a problemas como câncer e doenças cardiovasculares.
A pesquisadora, Juliana Frossard Mendes, avaliou o consumo de ferro na dieta e a quantidade de ferritina (proteína que armazena o ferro) de 134 adultos. Depois, ao medir o nível de dano em lipídios e proteínas corporais, viu que era "significativamente" maior nos 25% que ingeriam mais ferro.
Isso ocorre porque o ferro acelera as reações dos radicais livres, que acabam deixando um dano em outra molécula -um lipídio, uma proteína ou o DNA da célula. "Como não conseguimos dosar os radicais livres, medimos os danos nas proteínas e nos lipídios. Esses danos podem prejudicar a função celular: se for o DNA da célula, pode ter início o desenvolvimento de um câncer. Se for um lipídio, ele pode se acumular e gerar um atacar cardíaco."
Ela diz que não se sabe a partir de qual quantidade o ferro passa a ser prejudicial. Na pesquisa, os 25% que consumiam mais ingeriam, em média, 22,76 mg do mineral por dia.
O ferro da carne (hêmico) foi o que gerou mais danos. Mas Mendes diz que outros estudos mostram que o ferro não-hêmico também pode ser prejudicial em excesso. "Meu estudo foi feito com população de baixa renda, que tinha dieta mais pobre, mas o ferro não-hêmico pode se tornar mais biodisponível quando a pessoa tem uma alimentação rica em frutas."
O ferro adicionado a farinhas, por exemplo, é não-hêmico. Segundo Mendes, o fato de a adição ser obrigatória no Brasil contribui para que mesmo quem não precisa possa receber excesso desse mineral. Ela diz que deveria haver um limite de adição -alguns produtos contêm até dez vezes mais o nível de ferro natural do alimento. "As ações deveriam visar grupos com deficiência e de risco, como gestantes e crianças, e não todo mundo", defende.

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